O Amor que me escapou

Sua despedida fez falta. Não sei se por causa do tempo que carreu mais rápido e avassalador desde sua partida ou se foi só a intensidade da tua ausência que me afetava. Esse silêncio que correu nas minhas veias parecia passar mais tempo em cada batida do coração e ficava preso dentro do meu corpo. Minhas defesas imunes lutavam para derrotá-lo, mas não geravam memória para uma nova batalha. Apenas combatiam diariamente as dores momentâneas.

Engraçado como mesmo assim sofria de um inverno crônico, acompanhado de noite sem fim juntas a um pouco de vinho envelhecido. O que era para ser momentâneo acontecia em frequências tão altas que tornou-se duradouro. Meu sorriso não aparecia, muito menos seguia-te e as lembranças eram ofuscadas, como se perdessem o brilho por não me revigorar. Talvez o objetivo disto tudo fosse mesmo compartilhar o que vivemos, contando as estralas que poderíamos roubar do céu para nos aquecer.

Minhas últimas frases para ti foram: “Voe como um pássaro que conquista o mundo” e “Não fuja nem tenha medo de sua intensidade”. Foi ali então que você molhou minha boca pela última vez e correu para ir embora.

Seu ímpeto foi bom para me manter contigo enquanto pude. Toda essa vivacidade em que nos conhecemos, nos aventuramos e depois nos separamos talvez fosse a resposta para o que eu sempre vivi. Um amor que não podia segurar e acabava escorregando como manteiga na mão. Bastava-me então vivê-lo de forma rápida e singular como você me propôs, o que foi suficiente para deixar marcas.